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Guia para monetização como alavanca de crescimento (parte 2)
Como trabalhar monetização de forma integral a partir de 3 pilares: como você cobra, o que você cobra, e quanto você cobra.

🧠 Tempo para escrever: 8 horas | 📖 Tempo de leitura: 16 minutos
✍️ Na última edição: Guia para monetização como alavanca de crescimento (parte 1 de 2)
Nessa edição você vai ler:
Na primeira parte dessa edição dupla sobre monetização eu falei sobre as dificuldades de explorá-la como alavanca de crescimento, pontuando os principais desafios e armadilhas que existem em torno do tema.
Nessa segunda parte vou explorar os detalhes práticos dos 3 pilares da monetização.
Os 3 pilares da monetização
Monetização é constantemente confundida com precificação, mas o valor que você cobra dos clientes é apenas um de três elementos dessa alavanca.
Para gerar impactos no negócio é preciso explorar a monetização de forma integral em seus três pilares: como, o que e quanto você cobra.
Primeiro pilar: como você cobra
O pilar "como” detalha o seu modelo de cobrança, definido pelo formato e o momento.
Formato: transação, assinatura mensal, assinatura anual, anúncios.
Para ilustrar a importância do formato, gosto de dizer que a revolução do SaaS - software como serviço - apesar de impulsionada pela computação em nuvem, é mais uma mudança no paradigma da monetização do que uma inovação tecnológica.
O maior exemplo dessa revolução é, obviamente, a Salesforce. Fundada em 1999, sobrevivendo à crise das pontocom em 2001 ela é o primeiro caso de SaaS a crescer exponencialmente até se tornar a líder absoluta entre PMEs e Enterprise.
Porém, o caso que melhor ilustra o paradigma da monetização surge alguns anos depois, em 2011, e se chama Adobe.
No livro Inspired - How to create tech products customers love, Marty Cagan compartilha a história de Lea Hickman, responsável pela Creative Suite, um produto utilizado por mais de 1 milhão de clientes e com receita anual de 2 bilhões de dólares (o equivalente a quase 50% da receita total da companhia na época).
O trabalho de Lea? Matar esse produto e por uma assinatura no lugar.
O mercado já estava se movimentando de licenças anuais para assinaturas e a empresa precisava acertar o timing da transição, lutando contra o dilema da inovação e colocando o futuro da companhia em risco.
Minha edição de Inspired é de 2017 e, nessa época, o Creative Cloud era o software mais rápido a gerar 1 bilhão de dólares em receita recorrente, atingindo 9 milhões de clientes e a empresa chegando a 60 bilhões de market cap - uma fração dos 180 bilhões atuais, mas um crescimento de 300% vs. os 15 bilhões de 2011.
Para além da mudança local-nuvem, a história do SaaS é diretamente conectada com a concepção da ideia de que alugar pedaços de um software por tempo indeterminado pode ser melhor do que adquirir a suíte completa.
A depende do contexto, os clientes possuem um nível diferente de familiaridade em relação aos formato de cobrança. Esse contexto é formado pelo timing e pelo status quo.
No passado, alugar filmes de forma transacional, baseada em consumo, era o padrão. Hoje, assinamos 3 ou 4 plataformas de streaming - isso é timing. Mas, ao mesmo tempo em que assinamos Netflix, Spotify e até mesmo alguns bens de consumo não duráveis como vinhos e cafés, raramente assinamos roupas ou comidas - isso é status quo.
Considerar esses elementos é fundamental ao definir o formato de cobrança da sua empresa.
Momento: nunca (gratuito), imediato, antecipado (setup, mensalidade), após período de teste (trial) ou upgrade (freemium).
O segundo elemento do “COMO” é o momento em que a cobrança é feita e existem dois grandes elementos que você precisa considerar para tomar essa decisão: a saúde do seu fluxo de caixa e quanto tempo seu cliente precisa para experimentar o valor gerado.
O primeiro fator é simples. Dentro de uma empresa, nada é mais importante do que o fluxo de caixa. Uma empresa altamente lucrativa, com fluxo de caixa negativo, morre.
Porém, quanto mais cedo você exige o desembolso, maior é o nível de fricção para a tomada de decisão. É por isso que o segundo elemento é a geração de valor: peça o dinheiro após provar que suas promessas são verdadeiras.
Alguns negócios são usuais ou óbvios e o cliente não se importa de pagar primeiro para receber o valor esperado depois. Em outros casos o usuário é diferente do cliente e o produto é (aparentemente) gratuito. E em alguns a incerteza é alta e o cliente espera poder provar antes de decidir.
Considerar a complexidade do seu produto e a forma como o cliente experimenta valor é fundamental para criar um modelo de monetização que funciona. Veja o caso do Slack:
Por muitos anos o Slack foi a empresa com o crescimento mais acelerado de todos os tempos - já perdi as contas de quantas vezes usei o gráfico DAU 2014-19 que mostra a ascensão de zero a 10 milhões de usuários ativos no período.

Só pra não perder o costume
Entre tantos fatores, atribuo parte do sucesso do slack a um bom modelo de monetização. Considere como o loop de descimento da empresa funciona:
Alguém na empresa decide experimentar o slack e se cadastra.
Convida seus colegas próximos para testar a ferramenta
Esse grupo inicial convida outros membros do time para centralizar a comunicação
Eles extraem valor da ferramenta e convidam pessoas de outro time
Esses dois times experimentam sinergias e convidam um terceiro time
A comunicação está dentro do Slack do que fora, todo mundo migra para a ferramenta.

Qual é a relação disso com monetização? O momento da cobrança. Esse loop é impulsionado pelo freemium. Qualquer outro modelo de cobrança interromperia a experiência dos usuários iniciais, quebrando o ciclo - ou o usuário não entenderia completamente o valor da plataforma, ou ele sequer tentaria por saber que não conseguiria engajar a organização toda em poucos dias.
É por isso que como você cobra (formato e momento da cobrança) é tão importante para o seu modelo de monetização: ele sozinho funciona como impulsionador ou âncora do seu crescimento.
Segundo pilar: o que você cobra
Pelo que você cobra é uma discussão comum dentro das empresas como uma consequência natural do desenvolvimento de produtos, quando é preciso encaixar uma nova feature em determinados planos.
No contexto da monetização como alavanca, é preciso garantir que o preço cobrado esteja diretamente relacionado ao valor gerado (mais valor = mais caro) e, para isso, profissionais podem lançar mão de dois conceitos:
1) Estratégia de segmentação de planos.
A segmentação de planos consiste em dividir seus produtos entre diferentes tiers com ofertas diferentes. A Netflix tem o Premium, Padrão e Padrão com anúncios. O Slack tem Pro, Business, Enterprise.
Os nomes não importam, mas é importante entender que há duas formas diferentes de organizar suas ofertas: por funcionalidade e por casos de uso.
Empresas que vendem um produto para uma persona (ou grupo de personas similares com a mesma dor) tendem a usar a segmentação por features, organizando as funcionalidades entre os planos para que eles se adequem aos diferentes níveis de necessidade e maturidade de seus clientes.
Esse é o caso do Slack, que oferece logs de auditoria, retenções legais e integrações com DLP apenas no plano Enterprise, por exemplo.

Planos do Slack
O desafio desse modelo é entregar valor mesmo nos planos mais baratos e mapear adequadamente as zonas de transição (no caso do slack, quando uma empresa deixa de ser business e passa a ser enterprise?) para reduzir a fricção para o upgrade.
Já as empresas que vendem um produto para múltiplas personas organizam seus planos para atender bem a todos os diferentes casos de uso.
Esse é o modelo adotado pela STLFLIX, que oferece acesso à sua biblioteca de modelos para impressão 3D a partir de uma lógica de uso pessoal ou comercial.

Planos comerciais e pessoais
Planos comerciais, por exemplo, possuem uma licença de venda para que os assinantes possam vender peças impressas sem ferir os direitos autorais de artistas modeladores e outras funcionalidades, como gateway de pagamento e plataforma de e-commerce, que só fazem sentido para quem possui um negócio baseado em impressão 3D.
O desafio desse modelo é a cobertura do caso de uso, que muitas vezes tem necessidades completamente diferente de seus ‘colegas’ e exige desenvolvimento específico e outros tipos de sinergia entre funcionalidades.
Tendo clareza sobre como segmentar seus planos, você pode partir para o segundo conceito.
2) Métrica de valor
Como explicado anteriormente, o seu preço precisa escalar conforme você gera mais valor ao usuário, que pode ser medido de alguma forma - a métrica de valor.
Para isso é fundamental identificar qual é o atributo que o cliente leva em consideração na hora de contratar a ferramenta. Esses atributos podem ser expressos de três formas diferentes: uso, função e resultado.
Geração de valor a partir do consumo: casos em que o valor cresce com base no uso da ferramenta, como o Slack e Hubspot Sales Hub, que cobram por usuário.
Geração de valor a partir de funcionalidades: casos em que as funcionalidades adicionais aumentam o valor gerado pela plataforma, como a Netflix (qualidade do vídeo, áudio, aparelhos conectados) e também o anteriormente citado Hubspot Sales Hub que, além da cobrança por licenças, cobra mais caro pelas funcionalidades adicionais, revelando a possibilidade de modelos híbridos na composição da métrica de valor.

Geração de valor a partir de resultados: são casos onde a métrica de valor expressa o sucesso do cliente, inferindo que clientes mais bem sucedidos extraem mais valor da ferramenta e, portanto, estão mais dispostos a pagar mais pelo serviço, como o caso do Mailchimp, cuja base da precificação é pautada na quantidade de contatos na plataforma.

Identificar a métrica de valor é um trabalho cheio de nuances, opiniões e ideias pre-concebidas sobre o que é importante para o cliente, muitas vezes sem validação no mundo real ou suportada por um bom processo de discovery.
A boa notícia é que existe uma ferramenta que te ajudará a eliminar esses viéses.
Ferramenta: Escala Max-Diff
Essa é uma técnica antiga, de mais ou menos 1987, que ajuda a medir as preferências dos usuários através de um método binário - melhor e pior - estabelecendo a máxima diferença (daí max-diff) entre os atributos.
Sua aplicação é muito simples, com apenas 3 etapas:
1) Definir os atributos a serem avaliados: esses atributos podem ser as opções de cores para uma camiseta, os elementos de um produto (câmera, bateria, tamanho e preço de um iPhone, por exemplo) ou as funcionalidades de um software.
2) Montar a pesquisa: o método consiste em assinalar apenas o melhor e o pior atributo, ignorando avaliações intermediárias.

3) Analisar as taxas de adesão: após a captura das respostas você pode calcular dois indicadores: a taxa de adesão e a taxa de cobertura.
A taxa de adesão é a mais importante para a monetização e é definida subtraindo o %melhor do %pior.
Se um atributo recebe 30% dos votos como favorito e 10% dos votos como pior, a taxa de adesão será 20. Em uma escala de +100 a -100, você tem uma lista dos atributos mais importantes para seus clientes.
Na busca pela métrica de valor ideal é importante que a adesão seja alta e a rejeição, baixa, pois você não conseguirá cobrar por ela nos casos em que ela é considerada o pior atributo.
A taxa de cobertura consiste em ranquear os atributos pelo %melhor, ou a quantidade relativa de vezes em que foi favoritado. Isso te ajudará a compreender qual combinação de atributos maximiza a satisfação de seus clientes.
Por exemplo, tendo os atributos A, B e C sido favoritados 40%, 20% e 15% das vezes, você sabe que esses três itens combinados correspondem a 75% da preferência de seus clientes.
A taxa de cobertura é importante porque podem haver outliers na taxa de adesão: atributos escolhidos por poucas pessoas, mas rejeitados por ninguém.
Seguindo esses três passos do método Max-Diff você terá em mãos a combinação de métricas ideal para trabalhar o segundo pilar da monetização.
Terceiro pilar: quanto você cobra
O último pilar é o clássico valor monetário cobrado.
A abordagem mais comum em torno valor cobrado é, geralmente, ser arbitrário, no máximo agir com base nos valores praticados pela concorrência, afinal preço é objeção.
O problema desse caminho é que toda a responsabilidade pelo sucesso da monetização recai exclusivamente sobre o preço do produto, acarretando numa guerra de preços ou, pelo menos, numa política de descontos agressiva.
Em muitos casos, utilizar técnicas de markup e margem de contribuição para adicionar um valor sobre os custos é insuficiente para precificar adequadamente o produto ou serviço, uma vez que esse é um tema diretamente influenciado pela psicologia do consumidor.
Por isso uma boa ferramenta de precificação - rápida e fácil de aplicar.
Ferramenta: Termômetro de sensibilidade de preço
O termômetro foi concebido em 1976 pelo economista Van Westendorp como um método de pesquisa para estabelecer as faixas de preço mais atraentes para consumidores.
Ele é composto por 4 perguntas e seu valor está na combinação das respostas e conversão dos dados em um gráfico. Sendo elas:
1) A partir de qual preço você acha que o produto está tão barato que faz você questionar a qualidade? Esse ponto representa o limite inferior da faixa de preço aceitável. Um valor abaixo desse nível sugere que o produto parece "bom demais pra ser verdade", o que gera desconfiança sobre sua qualidade ou autenticidade e se torna uma nova objeção.
2) A partir de qual preço você acha que o produto é uma barganha? Aqui, o consumidor sente que está fazendo um ótimo negócio. O produto é valioso e confiável, e o preço está muito atrativo. Logo acima desse preço está o ponto ideal de percepção de valor.
3) A partir de qual preço você acha que o produto começa a parecer caro? Este é o ponto em que o preço começa a gerar resistência. O consumidor ainda considera a relação entre preço e produto aceitável, mas exige mais justificativas.
4) A partir de qual preço você acha que o produto é caro demais? Esse é o limite superior da faixa aceitável. Acima desse preço, o produto passa a ser percebido como injustificável ou inacessível, independentemente do que entrega.
A tabulação dos resultados consiste em determinar o % de pessoas que concordam com a afirmação de cada pergunta para cada ponto de preço. Por exemplo, em R$0 temos 100% das pessoas concordando que o preço é muito barato.
Ao jogar esses percentuais em um gráfico, sempre teremos algo parecido com isso:

Neste gráfico temos quatro elementos fundamentais para a análise.
1) O cruzamento das linhas muito barato e começa a ficar caro é chamado de ponto marginal de desconto (PMC - Point of Marginal Cheapness), considerado o limite inferior de preço aceitável, pois qualquer valor abaixo desse reflete em mais compradores descreditando o produto pelo seu preço.
2) Já o ponto onde as curvas muito caro e preço justo se tocam é chamado de ponto marginal de carestia (PME - Point of Marginal Expensiveness) e funciona como o limite superior dos preços aceitáveis. A partir desse preço, uma quantidade maior de pessoas considera o mais preço proibitivo do que correto.
3) Por fim, a interseção entre muito caro e muito barato é chamado de ponto de preço ideal (OPP - Optimal Price Point). Sempre entre PMC e PME, ele é considerado ideal por minimizar o número de pessoas insatisfeitas com o valor do produto.
Esse ponto é importante, mas o recomendado é trabalhar na faixa entre PMC e PME, dando liberdade aos profissionais para ajustarem o valor de acordo com outros elementos não capturas pela pesquisa.

O modelo de Van Westendorp tem seus defeitos e, sozinho, não aponta um preço definitivo, mas revela como os consumidores percebem o valor de um produto com base no preço. Quando combinado com outras técnicas, o modelo contribui para estratégias de precificação mais eficazes do que o padrão “chute".
Ao final dessa edição, assinantes da Growth Insight Premium tem acesso a uma planilha pronta para a aplicação do método do termômetro da sensibilidade de preço.
Alavancagem do valor a partir da monetização
Trabalhar a monetização de forma integral é mais uma ferramenta no arsenal dos profissionais responsáveis pelo crescimento das empresas.
No fim do dia,o objetivo da monetização é garantir que o valor percebido pelo cliente seja superior à combinação de esforço/fricção e preço.

Valor percebido é gerado pelo produto ou serviço em si.
O preço - o quanto cobramos - é o recurso básico de todas as empresas para trabalhar essa equação.
A Fricção, por outro lado, é a resistência natural criada pelos outros dois pilares da monetização - como e o que cobramos. O "como" (formato e momento) promove familiaridade/estranheza ao usuário e gera benefícios indiretos, como vantagens no fluxo de caixa e desoneração de orçamentos. Já “o que" (métrica de valor) relaciona o sucesso do cliente com sua disposição para pagar.
Sem essa última parte da equação nós geralmente não conseguimos torná-la verdadeira e arcamos com as consequências e armadilhas, conforme desceitas na parte 1 dessa edição.

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